Páginas

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Capítulo 33

- Professora, posso ir no banheiro? – Perguntei levantando a mão.
- Agora? Mas acabou de começar a aula, você deve agüentar mais um pouco! – A chata da professora de história me disse e tentou voltar a dar a aula chata dela. Eu me levantei e saí, ela começou a falar umas coisas que eu ignorei. Fui cruzar o pátio, mas fui impedida por um par de mãos fortes que me puxaram para virar.
- Suh, aonde você vai com tanta pressa? – Thiago perguntou um tanto estranho.
- A professora me pediu para falar com a diretora, dá licença! – Eu disse ríspida e tentando me soltar dos braços dele, que não consegui fazer.
- Espera, preciso te falar uma coisa... – Ele disse me olhando fundo nos olhos como um pedido mudo, quase implorando.
- Thiago, eu estou com pressa! – Eu disse me soltando e quase correndo para o lugar onde estavam os guys.

Cheguei na cantina e encontrei os garotos sentados em uma das mesas encarando uns aos outros em silêncio. Eles pareciam alheios ao que acontecia ao seu redor.
- Gente? – Cheguei por trás de Tom que levou um susto.
- Suh... – Tom disse triste e um tanto relutante. Senti que ele não esperava me ver, ou não queria ter que fazê-lo tão cedo.
- Cadê o Dougie? – Perguntei tentando não parecer ansiosa.
Eles ficaram em silêncio, me afligindo mais do que já estava.
- Falem! – Eu disse agora com um tom mais grave, tentando impor na voz que eu eles teriam que me contar, eu não ia desistir.
- Suh, senta primeiro! – Harry disse por fim.
Eu olhei desconfiada para ele, mas percebi que eles só me contariam se eu o obedecesse, então eu o fiz.
- Bom, aquele dia que ele ficou até tarde na sua casa... – Danny começou a dizer, mas não conseguiu terminar de falar e abaixou a cabeça, sua voz estava sofrida, era estranho ver ele daquele jeito, uma vez que seu humor parecia nunca ter fim.
- O que tem aquele dia? – Eu perguntei agoniada já. – Me falem de uma vez caramba!
- Aquela noite, ele estava voltando para casa, quando foi passar na frente de uma garagem um carro o acertou em cheio, ele está no hospital em coma... – Tom disse aquilo, sua voz estava ficando cada vez mais baixa, ele quase não conseguiu terminar a ultima frase. Eu senti que mundo desabava sobre minha cabeça, a minha visão ficou turva, rapidamente meu rosto esquentou e logo em seguida grossas lágrimas lavaram meu rosto.
- Por... Porque.. Porque vocês só... Foram... Me dizer isso... Agora? – Eu perguntei entre soluços, não estava conseguindo nem respirar direito.
- Nós... – Tom começou a tentar se explicar, mas não conseguiu. Deitei a cabeça sobre meu ante-braço sobre a mesa, não conseguiria suportar aquilo, meu Dougie numa maca de hospital todo machucado e inconsciente. Senti um abraço de lado e me ergui da mesa abraçando Danny que também chorava. Ele e Dougie eram bem próximos, dava para perceber.
- Eu quero vê-lo – Eu disse alguns minutos depois, me soltando do abraço de Danny. Eu ainda chorava, mas minha respiração tinha voltado ao normal.
- Suh, isso é com a Tia Sam, ela não queria nem que você soubesse... – Harry disse relutante.
- E onde ela está? – Perguntei com um nó na garganta e olhando para os lados para ver se a encontrava, em vão.
- Está na sala da diretora falando com ela – Tom respondeu.
- Eu vou lá... – Disse me levantando, mas Harry me segurou.
- Não Susan, espera, elas vão é te mandar para a sala de aula se invadir lá desse jeito – ele disse preocupado e eu me sentei derrotada.
- Você tem razão – coloquei os pés no bando e apoiei a cabeça nos joelhos e comecei a chorar mais, em pensar em Dougie, deitado em uma cama de hospital, inconsciente...
- Calma Suh, o estado dele não é tão ruim... – Tom disse tentando me acalmar.
- Se não é tão ruim, porque ele está desacordado Tom? – Eu disse inconformada, ele apenas me abraçou.
- O que houve gente? Porque a Suh está chorando assim? – Ouvi Maira perguntar e logo em seguida os braços dela me puxar de Tom e me abraçar apertado. Eu comecei a soluçar de novo.
- O Dougie está no hospital em coma – Harry respondeu as perguntas dela, que me abraçou mais forte e eu pude sentir que o seu coração acelerou quando soube da noticia. Mas quem não ficaria nervoso com isso?
- Calma Suh... Vai ficar tudo bem... – Ela disse baixinho no meu ouvido.
- Como você sabe? – Eu sussurrei, pois não conseguia nem falar direito.
- Porque sempre dá tudo certo no final! – Ela me disse e eu senti meu coração apertar mais.
- É, assim que as coisas são – Tom disse pousando as mãos nas minhas costas.
- Mas eu quero vê-lo – insisti com a voz manhosa.
- Daqui a pouco veremos sobre isso, também quero vê-lo! – Tom disse sério.
Ficamos sentados nos olhando sem dizer nada por um tempo, não muito longo, mas que para mim pareceu uma eternidade, até ouvir vozes vindas do pátio e estava vindo na nossa direção.
- Será a Tia Sam? – Perguntei levantando a cabeça e olhando para a direção do barulho esperançosa, mas nunca que seria ela, rindo e falando alto daquele jeito com o filho dela no hospital.
- Paola – eu disse nada animada. No mínimo ela foi matar aula lá em cima com uma menina.
- Gente, o que houve? – Ela perguntou alarmada pelas nossas caras. Não deu tempo de respondermos, Tia Sam surgiu no refeitório, acompanhada da diretora, que ficou olhando para nós quatro, que deveríamos estar em sala, mas estávamos ali.
- Garotas, porque estão aqui em cima? – Ela começou a falar e eu revirei os olhos impaciente e me levantei, indo na direção da mãe de Dougie. Só de pensar em falar as lágrimas já começaram a escorrer pelo meu rosto.
- Tia, eu preciso ver o Dougie... – Minha voz era um sussurro por conta do nó que se forma na minha garganta por causa do choro.
- Suh... – Ela disse relutante. – Ele não pode receber visitas...
Eu comecei a chorar mais, minhas pernas fraquejaram e eu me sentei no chão. Ela se abaixou na minha frente e me ajudou a levantar, me levando para o banco.
- Mas não posso nem ficar olhando para ele por aquele vidro que tem naqueles hospitais? – Eu disse com dificuldade.
- Não lhe faria bem, querida – ela olhava fundo nos meus olhos e eu pude ver que ela sofria tanto, quanto mais, que eu.
- Eu... Preciso vê-lo... – Eu repeti, desviando do olhar dela, mais para mim mesma do que para as pessoas ouvirem. – Onde ele está internado?
Tia Sam não iria me falar, eu percebi pelo olhar dela. Ela não era idiota, sabia o que eu iria fazer, mas eu não era de desistir fácil.
- Tudo bem, já que não vai me falar eu vou sair de hospital em hospital até achar! – Eu disse firmemente, quando fui me levantar ela segurou meu braço.
- Eu te levo – ela se deu por vencida.
- Diretora? – Ela se aproximou da mulher mais velha que conversava com Maira, Paola e a outra garota que eu não sabia quem era, embora já a tivesse visto pela escola.
- Sim, senhora Poynter? – Ela se virou para Tia Sam.
- Será que você me liberaria a Susan por hoje das aulas? – Ela perguntou cautelosa.
- Só com a permissão de um responsável dela – a diretora respondeu com uma voz de profissional e me olhou em seguida, ela pareceu se abalar um pouco com o meu olhar mudo e desesperado de que precisava muito ir. – Desculpa, são as normas da escola.
Não haveria problemas com minha mãe, mas eu ia perder muito tempo ligando para ela.
- Vou ligar para minha mãe! – Eu disse tirando o celular do bolso.
- Eu quero ir com vocês, para dar apoio para a Susan! – Maira se impôs.
- Não Mai, é melhor você ficar, as meninas devem estar preocupadas... – Eu disse enquanto minha mãe não atendia o telefone. – Por falar nisso, como você saiu na aula da professora de história?
- Longa história, mas é melhor eu voltar antes que ela vem atrás de mim com uma bazuca! – Ela disse já descendo para o pátio. Em outra ocasião eu riria com a piada dela. Me virei e me afastei, passando pelo portão que dava para a quadra de esportes da escola.

- Alô? Mãe? – Eu fiz a melhor voz que pude para parecer bem quando ela atendeu, mas mãe é mãe.
- Filha, tudo bem? Aconteceu alguma coisa? – Ela começou a perguntar me corujando como sempre.
- Sim... – Eu respirei fundo, não sei porque disse sim, acho que reflexo. – Não mãe, na verdade não está nada bem...
Comecei a chorar de novo.
- O que aconteceu Susan, porque você está chorando? – Ela perguntou alarmada, mais preocupada do que já estava. – Quer que eu vá te buscar?
- Não mãe... Eu preciso que você me libere da escola por hoje com a diretora... – Disse entre as lágrimas.
- Mas porquê? Filha, vou ir te buscar agora! – Ela disse e eu ouvi um barulho estridente, ela deveria ter derrubado algo.
- O Dougie mãe... – Não consegui continuar.
- O que tem ele? O que ele te fez? – Ela perguntou agora com um tom de voz mais grave que eu conhecia muito bem.
- Não mãe, não é nada do que você está pensando... – Eu disse e respirei fundo recuperando o ar. – Ele está no hospital...
- Oh meu Deus Suh, por quê? – É do instinto de todo mundo perguntar isso, mas eu não queria responder.
- Mãe, quando eu chegar em casa te respondo, mas por favor... Me libera aqui da escola para eu poder vê-lo... – Senti que começaria a chorar de novo, mas respirei fundo e engoli o choro.
- Claro minha filha, vou desligar e ligar para a diretoria, te amo! – Ela disse e eu respondi com outro “te amo” quase inaudível.