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segunda-feira, 14 de março de 2011

Capítulo 34

Chegamos no hospital e eu nem esperei o pessoal, desci do carro e disparei na frente, mas logo Tom me alcançou e me fez ir mais devagar. Eu queria correr para dentro daquele hospital gritando que eu queria o Dougie comigo, queria que o fizessem acordar, mas me contive em ficar quieta. Tia Sam passou na nossa frente e nos guiou até o quarto que Dougie estava. Não podíamos passar pela porta, só o veríamos pelo vidro. Ele estava todo arranhado e ligado à milhares de fios.
- Eu disse que não era bom você ter vindo Susan! – Tia Sam disse quando eu cheguei ao ponto de soluçar de tanto chorar.
- Eu... Não... Podia... Deixar... Ele... Sozinho... – Mal consegui dizer essa frase direito.
- Suh, você quer uma água? – Harry perguntou, eu não disse nada, apenas me dirigi para o vidro que dava visão de Dougie e grudei a cara nele, observando o meu garoto deitado naquela cama todo machucado e inconsciente.
Acho que ninguém quis me incomodar ou não sabia o que fazer comigo, pois somente Harry ficou do meu lado olhando para dentro da sala com a mão em meu ombro.
- Ele vai ficar bem, eu sei, ele é forte... – Harry disse depois de alguns minutos ao meu lado em silêncio. Não disse nada e nem desgrudei o rosto do vidro até perceber um barulho de porta abrindo. Quando olhei para o lado uma enfermeira abria a porta do quarto de Dougie, meu coração foi na boca. Ela checou um monte de coisas lá dentro e saiu, mas logo voltou com um médico.
- Porque ela trouxe o médico? O que está acontecendo? Porque o médico vai examinar ele? – Comecei a entrar em desespero jogando milhares de perguntas para Tia Sam.
- Calma Susan, é apenas os preparativos para o exame que eles vão fazer nele daqui à pouco – ela disse e nem tentou sorrir simpática para mim porque nem era hora para isso, mas eu senti falta desse gesto.
- Que tipo de exame? – Queria saber de tudo que estava acontecendo.
- Vão fazer um raio-x da cabeça dele para ver se houve progresso na recuperação – ela respondeu paciente. Resolvi para por aí porque eu comecei a perceber o quão chata estava sendo.
Algum tempo depois uns três enfermeiros apareceram com um leito para pegar Dougie e levar para a sala que iriam examiná-lo e uma hora depois ainda não haviam voltado.
- Que demora – resmunguei enquanto roia as unhas que nem tinha mais.
- É, estão demorando demais! – Danny levantou e veio do meu lado tentando também ver em vão dentro da sala pelo vidro escuro que ficava na porta.
- Vem sentar aqui vocês dois, ficar aí tentando ver o que está acontecendo só faz a ansiedade aumentar – Tom meio que ralhou com a gente que o ignorou.
- Cala a boca, deixa eles – Ouvi Harry dizer para tom que bufou.
- Até parece que eu também não estou ansioso – Tom murmurou bem baixinho, mas mesmo assim consegui ouvir devido ao silêncio que estava no corredor onde nos encontrávamos.
- Sei que você está preocupado dude, mas é que temos maneiras diferentes de demonstrar isso, e a minha maneira é querer gritar com todo mundo, já a sua é acalmar as pessoas nervosas – Respondi Tom de repente o fazendo arregalar os olhos.
Antes que ele respondesse algo a porta abriu atrás de mim e eu me virei rapidamente e me afastei para os enfermeiros passarem com Dougie e quando ia seguindo-os o médico saiu e eu resolvi ficar para ver o que ele tinha para falar.
- Então Doutor? Como ele está? – Tia Sam perguntou antes que qualquer pessoa mais falasse, inclusive o médico.
- O estado dele é estável, teve um grande avanço, mas ele ainda está em coma e não sabemos quando ele irá acordar. Como ele está fora de perigo será transferido para um quarto onde poderá receber visitas – O médico anotava algo em sua prancheta enquanto falava.
- Quando poderemos vê-lo? – Perguntei afobada com Danny do meu lado.
- Logo que ele for instalado num apartamento – ele se virou para Tia Sam – Você deve ser a mãe dele, poderia vir comigo para resolver esses assuntos?
- Claro! – Ela respondeu e se virou para nós cinco. – Garotos, vão à lanchonete e comam algo, assim que Dougie estiver no quarto eu vou chamá-lo. Vamos Doutor!
Dizendo isso ela sumiu pelo corredor com o médico e Harry passou o braço pelo meu ombro e fomos para a lanchonete.

- Come algo Suh, você vai emagrecer e ficar feia, aí o Dougie acorda e te dá um pé na bunda! – Danny tentava me animar e fazer comer alguma coisa, mas eu parecia ter travado e só de ver aquele sanduíche gelado na minha frente eu me sentia cheia.
- Não estou com fome Danny, e além do mais não vou emagrecer por ficar menos de uma manhã sem comer! – Respondi revirando os olhos e apoiando o cotovelo na mesa e o queixo nas mãos.
- Tudo bem, se você não quer comer eu como – Tom deu de ombros e pegou meu sanduíche o que me fez rir e balançar de leve a cabeça em negação ao que ele fez.
- Só você mesmo pra me fazer rir uma hora dessas – falei revirando os olhos.
- É para isso que os amigos servem, para te fazer rir nos piores momentos – ele disse me dando um sorriso reconfortante que pareceu funcionar porque eu retribuí.
- Obrigada! – Agradeci inconsciente de que eles também eram amigos do Dougie e também sofriam, mas nesse momento eu estava egoísta, mesmo não querendo ser.
- Quem está afim de ver o Dougie? – Tia Sam chegou perguntando e eu pulei da cadeira na hora.
- Eu quero, onde ele está?
- Sabia que iria ser assim – ela respondeu sorrindo. – Venham, ele está no terceiro andar.

Entrando no quarto eu fui rapidamente para o lado de Dougie e peguei sua mão. Queria estar sozinha no quarto com ele, mas os guys queriam vê-lo também então não ousei dizer nada a esse respeito.
O rosto de Dougie tinha alguns arranhões, e tinha um tubo em seu nariz. Em seu braço tinha uma agulha que era ligada à um tubo que dava para uma espécie de saco com soro dentro o nutrindo, mas isso não me chamou mais atenção do que os machucados em seus braços, estavam esfolados devido ao arremesso que o carro lhe deu e ele voou caindo no asfalto.
- Até que para quem foi atropelado ele está em um estado físico... Digamos... – Danny parou de falar para pensar na palavra que ele procurava para terminar a frase. – Bom não é porque Olah isso... Mas é um estado aceitável, não parece um atropelado...
Tadinho do meu amigo, se enrolou todo para falar uma besteira, sabendo como o Danny é o ignoramos.
Tia Sam não tinha entrado no quarto. Acho que ela tinha ido resolver algum problema no hospital.
- Gente, será que ele vai ficar muito tempo desacordado? – Harry perguntou com a voz afetada e eu tive vontade de abraçar ele.
- Não sei cara, ouvi dizer que o coma é relativo. A pessoa pode demorar uma semana para acordar como pode demorar meses ou até anos – Tom respondeu Harry que soltou o ar pesadamente.
- Tomara que ele não demore a acordar, eu bato nele se ele fizer isso – Danny disse descontraindo o quarto.
Danny era legal, ele não gosta de climas tensos, nem quando a coisa afeta ele, ele não gosta de pensar no pior e faz piadas das coisas o tempo todo por isso. Essa era uma qualidade nele que eu queria ter, me acho tão escandalosa e dramática. Ficamos a maior parte do tempo em silêncio depois disso, apenas comentando sobre uma coisa ou outra até que Harry se levantou de repente.
- Vou dar uma volta, não adianta ficar aqui vendo ele deitado aí nessa cama e não poder fazer nada! – Ele disse se dirigindo a porta e saindo. Pude ver em seus olhos uma tristeza que nunca tinha visto antes.
- Ele deve gostar muito do Dougie né? – Perguntei apertando a mão de Dougie. Sim, eu ainda estava ao lado dele.
- Dougie é o melhor amigo dele – Tom respondeu levantando e indo para a porta – Vou com ele, você vem Danny?
- Sim – Danny já estava atrás de Tom antes que eu pudesse perceber que ele havia se levantado, eu estava com uma dor de cabeça absurda, acho que era de preocupação, e ainda era de tarde.
- Dougie, por favor, não demora muito para acordar... – Sussurrei para ele, agora que me encontrava sozinha com ele no quarto eu me sentia a vontade para fazer isso, dizem que conversar com pessoas em coma é bom, faz elas terem vontade de acordar. – Preciso de você... É tão ruim te ver assim.
Senti um nó na minha garganta e as lágrimas escaparam dos meus olhos. Parece que com a saída dos garoto meu campo magnético contra a franqueza foi junto com eles.
- Eu te amo – disse e dei um selinho nele. Logo em seguida ouvi batidinhas de leve na porta e olhei para trás.
- Suh! – Maira entrou no quarto e veio me abraçar, logo senti mais dois braços passando por mim. – Sinto muito.
- Eu também – respondi limpando as lágrimas que haviam caído.
- Ele vai ficar melhor – Lara disse me dando um abraço separado agora.
- Isso mesmo, você vai ver, daqui a pouco ele acorda e já quer ficar de agarração contigo por aí! – Priscilla disse me cutucando nas costelas antes de me abraçar me fazendo rir entre o choro que ainda não havia cessado.
- Eu sei – respondi não muito convincente.
Contei à elas o que eu sabia do acidente e o que tinha acontecido no hospital.
- Onde estão os meninos? – Lara perguntou quando eu disse que eles também estavam sofrendo.
- Foram tomar um ar, Harry saiu daqui todo triste dizendo que ficar aqui não ia adiantar nada e Tom e Danny foram atrás dele – respondi.
- Tadinho do Harry – Priscilla respondeu e eu tive a leve impressão de que ela queria reconfortá-lo, mas não disse nada.
- E como está o Tom? – Maira perguntou preocupada.
- Tom é forte, ele parece o mais controlado – Analisei meus pensamentos pela primeira vez e percebi isso.
De repente ouvi meu estomago roncar e arregalei os olhos.
- Quanto tempo você está sem comer? – Lara me olhou serrando os olhos.
- Comi em casa só, antes de ir para a escola! – Respondi mordendo o lábio inferior sabendo que lá vinha bronca.
- Susan, como você pôde ficar tanto tempo sem comer? – Maira me olhou de cara fechada.
- Porque simplesmente não conseguia comer – me defendi, mas não adiantou muito, elas levantaram e me puxaram para a porta.
- Vamos na lanchonete, você tem que comer! – Priscilla disse autoritária.
- Não vou, eu quero ficar aqui, vai que ele acorda e está sozinho? – Falei me livrando das mãos de Maira e cruzando os braços.
Vi Lara sair do quarto e voltar alguns minutos depois com Tia Sam.
- Pronto, ele não vai ficar sozinho, vamos! – Maira disse me puxando de novo.
- Odeio vocês – disse fazendo birra.
- Mentira, você nos ama, vamos logo antes que eu comece a te puxar pelos cabelos! – Maira disse e eu comecei a andar normalmente.
Estávamos sentadas na lanchonete da esquina do hospital, segundo Maira até a comida da lanchonete do hospital era comida de hospital e eu não podia comer lá porque comida de hospital é para doente e eu estava muito saudável.
- É numa hora dessas que eu me pergunto porque ainda sou amiga de vocês, meu namorado em coma e vocês me arrastam para uma lanchonete de esquina bem longe do quarto dele – resmunguei e Maira colocou a mão em meu ombro e me olhou com falsa cara de pesar.
- É que você cometeu muitos pecados na vida passada!
- Só pode ser! – respondi revirando os olhos. Me sentia culpada só de sorrir.
- Posso voltar para o hospital agora? – Perguntei a terminar de comer o misto quente que elas haviam me obrigado a comer tomando suco de laranja.
- Pode! – Voltamos a hospital e elas ficaram comigo até a mãe delas ligarem para elas.
Estava sozinha com Dougie e segurando sua mão quando eu escutei a porta se abrir.
- Suh? – Ela cochichou e eu a olhei.
- Mãe! – Fui ao seu encontro e a abracei.
- Como você está? – Perguntou, como se não soubesse a resposta.
- Mal – respondi abaixando o olhar para o chão.
- Sinto muito – essas duas palavras foram as que eu mais escutei no dia então não a respondi, o que eu poderia falar? Repetir de novo um “eu também”?
Ficamos em silêncio, era incomodo ter alguém no quarto, eu não queria conversar.
- Suh, vamos para casa? Está tarde! – Ouvi minha mãe perguntar. Então foi por isso que ela foi lá, foi me buscar!
- Não quero ir... – Fiz birra de novo. “Eu estou sensível, coe!”
- Você não pode ficar aqui a noite toda! – ela disse com a voz mais autoritária.
- Porque? – Perguntei indignada.
- Porque é uma norma do hospital... – Respondeu ela pesarosa. – Vamos?
- Agora? – Fiquei surpresa.
- Sim, são oito horas da noite já querida! – Ela disse indo até mim e me abraçando.
- Deixa eu me despedir? – Perguntei e ela entendeu que eu queria ficar sozinha com ele e saiu.
- Dougie, amanhã eu volto tudo bem? Te amo, vê se acorda logo. I Miss You! – Disse a última frase e lhe dei outro selinho. O último do dia.