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domingo, 30 de outubro de 2011

Capítulo 40

Eu cheguei em casa e fui direto para meu quarto, já havia parado de chorar, mas ainda estava com muita raiva.
- Arg, idiota, prefere acreditar naquela doida a acreditar em mim, então que fique com ela seu desgraçado! – Grunhi com raiva pegando meu caderno para escrever algo, precisava extravasar e o melhor jeito era assim.
Escrevi até a mão doer e resolvi sair para respirar ar puro, não queria dormir. Eu pensei em meu pai, mas a essa altura ele deveria estar muito longe. Peguei meu MP4 e fui andando até uma praça aonde ninguém nunca vai, assim era mais difícil de achar algum conhecido.
Chegando lá tinham várias mães com seus filhos no parquinho, algumas pessoas caminhando e uma quadra de tênis aonde haviam vários adolescentes, da minha idade, jogando. Me aproximei da quadra e encostei na barra de ferro horizontal e apoiei o queixo nas minhas mãos vendo o jogo de dois garotos, realmente bons no que faziam, jogar a bola verde de um lado ao outro, ouvindo uma música qualquer do Kansas.
Senti alguém parar do meu lado, dei uma olhadela e voltei minha atenção novamente ao jogo. Eu não sabia as regras, mas ver eles jogar estava legal.
Senti a pessoa ao meu lado me cutucar, uma garota do meu tamanho mais ou menos e com um cabelo todo colorido e bem vestida até, fez um gesto para que eu tirasse os fones de ouvido e eu o fiz.
- Olá, sou a Jessica – ela disse sorrindo.
- Susan – respondi educada e sorrindo também.
- Nova no pedaço? – Perguntou olhando para a quadra, assim como eu fiz também.
- Não, apenas passeando – falei banalmente vendo o carinha da direita marcar um ponto e logo depois piscar para a Jessica, depois ele saiu da quadra e parei de prestar atenção na quadra.
- Ele é meu irmão – ela disse sorrindo ao ver a cara que eu deveria estar.
- Ah – foi a única coisa que consegui falar, sem graça ainda por cima.
- É da onde? – Voltou a perguntar a estranha curiosa.
- Centro, você é daqui? – Eu cansei de responder as perguntas dela.
- Sim, aqui é bom de morar – ela pareceu mesmo orgulhosa do seu bairro.
- Parece ser bom mesmo – incentivei-a. Mas era realmente lindo o bairro, era calmo, organizado e via-se várias pessoas sorrindo sentadas na porta de casa. Se eu fizesse isso em um dia de semana era capaz de ser atropelada por pessoas apressadas que vão pagar suas contas nos bancos perto da minha casa. Morar no centro te deixa presa dentro de casa sabia?
- Mas o que te trouxe aqui? Conhece alguém que mora por aqui? – Cara, ela queria saber demais já!
- Não – me limitei a isso.
- Eu sei, eu pergunto demais, mas é que você parece legal – ela falou ficando vermelha e eu ri internamente. A menina sabe que está incomodando, mas ainda assim está aqui perguntando porque me achou legal.
- Tudo bem, você parece ser legal também – coé, eu não podia ser mal educada e falar “As aparências enganam, honey!“.
Depois disso ela ficou quieta, graças ao Senhor e eu pude ouvir minha música, com um fone só, iria ser mau educada se colocasse os dois, e ver um jogo amador, perto do que estava acontecendo quando cheguei.
Alguns minutos depois o pessoal começou a sair da quadra e Jessica começou a sorrir.
- Vem, quero te apresentar para eles... – ela me puxou pelo braço e veio na minha cabeça a imagem daquelas de desenhos que a pessoa puxa a outra e aí fica a cabeça pra trás e depois vai pra frente com tudo. Comecei a rir daquilo que pensei. – Gente, olha, amiga nova, Susan! – Ela me apresentou.
- Olá – um garoto, dos amadores, o que ganhou, e que estava do lado esquerdo falou sorridente. – Meu nome é Pedro.
- Sou o Charlie – respondeu o irmão dela. Os outros dois garotos, os que perderam tinha ido embora já.
- Vocês são jogadores profissionais? – Perguntei apontando para as raquetes.
- O que? – Perguntou Pedro risonho. – Nãaao, é só por hobbie mesmo... – Deu de ombros e eu fiquei abismada.
- Nossa, vocês jogam tão bem – deveria ter feito uma cara muito estranha, eles riram de novo.
- Obrigada – falou Charlie. – Você sabe jogar?
- Eu não, nunca ninguém me ensinou... – na verdade eu nunca procurei tentar aprender, mas deixa em off.
- Quer aprender? – Perguntou Jessica saltitante.
- Acho melhor não... – ri sem graça.
- Ah, qual é,vamos lá, não é tão difícil! – Pedro insistiu me empurrando de leve com um soquinho.
- Quem sabe um outro dia? – Tentei sair da situação, eu não queria aprender nada.
- Então vamos nos ver mais? – Perguntou Pedro e eu sorri amarelo. O que eu falaria?
- Ain, espero que seja verdade isso, estou completamente só, sem amigas... – Falou Jessica fazendo um drama forçado e todos riram. – Qual é? Minha amiga foi embora para a Grécia!
- Own tadinha dela... – Zuou Pedro e a garota lhe mostrou língua.
- Gente, maneira aí um pouco com o Love de vocês, a Susan vai se assustar e nunca mais volta – falou Charlie vindo até ao meu lado e me cutucando a costela com seu cotovelo. Eu fiz uma careta, doeu, mas acho que ninguém viu. Sorte.
- Estou acostumada, meus amigos são muito mais amorosos um com o outro – ri lembrando de Danny e Tom juntos.
Fiquei conversando com eles por horas, até que eu percebi que o sol estava quase se pondo e tive que ir embora para casa. Fiquei de ir na quadra no outro dia.
Chegando em casa eu fui para o computador, tirei o atraso, fofoquei no twitter, falei do Dougie, falei dos amigos que fiz, e sorte que nenhuma das minhas amigas estavam online para dar o ataque de ciúmes delas, depois disso desliguei e fui procurar algo para fazer, mas não conseguindo pensar em nada resolvi descer para ver o que os outros seres moradores dessa enorme casa estavam fazendo.
- Olá filha, faz tempo que não nos falamos direito não? – Perguntou minha mãe assim que me sentei ao seu lado no sofá, para ver televisão com ela e Marcelo.
- Pois é, com o problema com o Dougie isso ficou muito raro – dei um sorriso amarelo para ela ao lembrar de Dougie, fora que nem contei para ela sobre a briga que tivemos.
- E ele, como está? – Perguntou inocentemente.
- Bem, eu acho... – Realmente eu não sabia como ele estava, mas provavelmente feliz por se ver livre de mim.
- Como assim ‘acho’? – Perguntou minha mãe se posicionando melhor para visualizar minha expressão. – Você não estava com ele a tarde? – Eu neguei com a cabeça e ela franziu o cenho.
- Onde você passou a tarde? – Agora até o Marcelo começou a prestar atenção na conversa. Infeliz.
- Por aí mãe – eu disse e revirei os olhos. Mas nunca que eu ia falar para ela que eu fui do outro lado da cidade, fora que eu descobri que lá realmente não vai gente que eu conheço, e também tenho a certeza que se eu falar para ela isso não será mais possível. “Anonimato é o que há nesses dias”.
- Onde? – Perguntou autoritária, mas eu permaneci quieta e ela mudou de estratégia. – Porque não passou a tarde com o Dougie? Algum problema?
- Ah mãe, ele não confia em mim, pra quê vou ficar com um cara que prefere acreditar em uma menina doida do que na namorada dele? – Revirei os olhos.
- Ah vocês brigaram?! – Dona Cíntia fez uma cara de pena, até parecia que ela quem o namorava.
- É, brigamos e eu não quero mais ver ele na minha frente! – Falei brava.
- Nossa... – Marcelo se pronunciou pela primeira vez...
- É, nossa mesmo... – Dei de ombros. – Alguma novidade gente? – Mudei de assunto rápido.
- Descobrimos que terá uma irmãzinha – mamãe toda feliz me comunicou e eu sorri.
 - Que ótima notícia! – Falei empolgada. – Já sabem o nome?
- Quero Joanna – falou mamãe e Marcelo fez uma cara de “não posso fazer nada né?” e eu só ri disso, mas foi breve.
- Muito lindo esse nome, será que vai ter olho claro igual do Marcelo? – Eu amo olho azul e o do Marcelo era MUITO azul, era lindo. Por mais que eu não gostasse do dono do olho.
- Eu espero que tenha – sorriu minha mãe bobona.
- Estou com fome – falei passando a mão na barriga e minha mãe riu.
- Que me ajudar a fazer algo para comer? – Perguntou ela e eu fiz uma careta. Odeio cozinhar. Ela gargalhou. – Não precisa fazer nada, só companhia.
-Se é assim eu vou – ri e me levantei indo com ela para o outro cômodo.
Chegando lá eu me sentei na bancada e ela foi para os armário.
- Então, o que a donzela vai querer comer? – Perguntou mamãe virando para trás e me encarar.
- Quero... – Pensei no que eu queria. – Torradas!
- Torradas saindo em 10 minutos – ela brincou fazendo uma espécie de continência.
- Ai mãe, só a senhora mesmo para fazer isso – falei balançando a cabeça negativamente e rindo.
- Sim, mas agora quero saber mais sobre o que aconteceu com você – pronto! Estava demorando para ela perguntar do Dougie.
- Aquela Paola de novo... – fechei as mãos em punho em cima do balcão. – Vadia!
- Olha os modos! – Minha mãe ralhou comigo. – O que ela fez?
- Bom, vou resumir... – Anunciei. – Foi assim, aquele dia que eu saí com meu pai e você foi no hospital, o Thiago apareceu na sorveteria, daí papai teve que ir embora e eu ia com ele, mas aí o Thiago se ofereceu para me levar em casa porque eu ainda não havia acabado meu sorvete, aí eu fiquei sabe? Papai deixou, que raiva! – Explicava calmamente para ela, deu uma pausa e ela permaneceu calada, embora ela estivesse preparando as torradas ainda, mas de frente a mim, então ela poderia se expressar, mas como não fez eu continuei. – Aí o Thiago ficou falando do Dougie e tal, mas na hora da volta quando eu fui me despedir e dar um beijo na bochecha dele, ele virou o rosto e quase dei um selinho nele.
- Que horror! – Exclamou mamãe séria.
- Pois é, mas aí eu briguei com ele e ele prometeu que não iria contar nada pra ninguém e que não faria mais isso, só que quando eu ia para a escola irritada, hoje, ele me viu e ofereceu carona, eu não aceitei, daí ele começou a ficar falando de ontem e a va... a Paola se intrometeu e aí acabou que o Thiago deu com a língua nos dentes e a idiota pegou e contou para o Dougie.
- Mas você não tentou explicar para ele? – Mamãe perguntou preocupada.
- Eu IA contar para ele mãe, mas aí quando eu comecei a falar, ele começou a dar piti e falar que eu era uma mentirosa, que eu estava saindo com o Thiago, que a Paola falou para ele que nós ficávamos direto e quando eu disse que ela era uma doida varrida, ele me falou que ela poderia estar certa, afinal, ela é prima do menino e ele sabe que eu tinha uma queda pelo Thiago e que eu poderia estar aproveitando já que agora tenho a oportunidade – falei com a voz carregada de mágoa e ódio de todos.
- Ele não acreditou em você? Que absurdo, o que esse menino tem na cabeça? O cérebro dele foi afetado pela pancada por acaso? – Minha mãe ficou revoltada assim como eu, sorte que ela estava terminando minhas torradas.
- Não quero mais saber de gente que não acredita em mim, eu perdoei ele, que sofreu essa merda de acidente por causa daquela menina e ele ainda têm a cara de pau de falar que ela está certa, ele que vá pro quinto dos infernos e arrasta aquela bitch com ele – mamãe não sabia o que significa bitch.
- Estarei aqui para qualquer coisa ta? – Mamãe falou pondo sua mão sobre a minha, ainda fechada em punho sobre o balcão.
- Pode deixar que eu te procurarei – sorri sincera para ela e ela refletiu meu sorriso no rosto dela.
- Mas me conta, onde passou a tarde? – perguntou pegando o suco e colocando num copo, pondo as torradas e o mesmo em uma bandeja e indo para a sala. Eu fui atrás dela, o meu lanche ia ser vendo filme, oba!
- Eu fui em uma praça aí, conheci pessoas novas, que não sabem dos meus problemas, foi legal, espaireci um pouco – falei me sentando e pegando a bandeja para mim.
- Percebo, você nem quis me matar agora de tarde – nós rimos, ela se sentou ao lado de Marcelo.
- Nem sou tão mal assim! – Ri.
- Ah não, é muito mal – ela riu e desatamos a falar besteiras até a campainha tocar.
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