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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Capítulo 24

- Mãe porque ele veio? – Perguntei depois  que minha mãe já estava mais calma por causa da água que eu tinha pegado para ela.
- Eu insisti para que ele só aparecesse aqui depois que eu falasse com você, mas o John é teimoso – explicou minha mãe com uma boa introdução sobre o assunto mas que não ajudou em nada.
- Falar o que? – Perguntei sem ter entendido o que ela quisdizer.
- Ontem, depois que você se trancou no seu quarto, seu pai...
- Meu Pai uma ova, é John! – A interrompi, ela respirou fundo e bufou.
Tudo bem, o John – ela enfatizou o nome dele – apareceu aqui de supetão, ele queria falar com você, mas do jeito que você estava alterada eu falei que você estava dormindo.
- Fez bem, eu não teria dormido a noite por causa de tanto desgosto! – Eu disse dando um risinho irônico.
- Para de ser idiota Susan, querendo ou não ele é seu pai! – Ela falou num tom de voz duro para mim essa ultima frase, mas não mudou meu modo de pensar.
- E aí, você não me falou o que ele queria falar comigo – lembrei de voltarmos as assunto antes que esquecêssemos sobre o que falávamos.
- Tudo bem, vou te contar desde o início, mas já aviso que a história é longa! – Eu apenas continuei a olhando e não falei nada esperando ela prosseguir.
- Quando me separei do seu pai, ele ficou muito revoltado e foi morar em outra cidade – eu a olhava incrédula – isso eu nunca te contei não é?
- COMO VOCÊ ESCONDE ISSO DE MIM MÃE? – Eu gritei me levantando – PORQUE NUNCA FALOU QUE O JOHN FOI EMBORA POR SUA CAUSA?
- Porque nunca achei necessário – ela disse num tom de obviedade e meu sangue ferveu.
- E VOCÊ ME DEIXOU ESSE TEMPO TODO ACHANDO QUE EU FUI A CAUSA DA SEPARAÇÃO DE VOCÊS E QUE ELE NUNCA VEIO ME VER PORQUE ELE TINHA RAIVA DE MIM E SÓ TENTAVA SE APROXIMAR D MIM PRA PODER DEIXAR A MERDA DO DINHEIRO DELE PARA AQUELES URUBÚS QUE O CERCA? – Falei tudo que eu sentia todo esse tempo, mas que nunca tinha falado para ninguém e uma expressão de choque tomou conta do rosto de minha mãe.
- Nunca soube que... Você achava... Isso e que é... Por isso que você odeia... Odeia tanto assim o... O John... – ela disse com uma voz baixa e esganiçada.
Fiquei em silencio, não sabia o que falar.
- Acho que nós devíamos ter conversado mais sobre seu pai – ela chegou a conclusão depois de alguns minutos caladas.
- Acho que deveríamos ter contado uma para a outra, o que sentíamos em relação a John, isso sim! – eu a corrigi.
- É, tem razão! – Ela disse abaixando os olhos que estavam olhando suas mãos brincando em cima da mesa para o chão.
Depois do que ela me disse me deu um aperto no peito, saber que eu sempre recusei a aproximação de John achando que ele foi embora por minha causa. Sempre que ele tentava se aproximar de mim eu dava um jeito de fugir.
- Tem mais... – Minha mãe interrompeu meus pensamentos.
- Mais? – Perguntei com medo do mais dela.
- Aham, sabe, depois que seu pai foi embora, ele voltou na cidade duas vezes para te ver mas nunca teve coragem de vir te ver, ele me ligava e eu insistia para ele vir, mas aí quando ele chegava no portão ia embora, e com isso ele resolveu não voltar mais.
- Você nunca me falou isso... – Eu disse triste mais para mim do que para ela.
- Por isso eu sempre quis que você aceitasse tudo que ele te mandava, mas você nunca aceitava... – Ela disse e eu vi que ela tinha razão. – Ele tinha medo de aparecer e você fazer o que fez hoje.
- Mas quando eu era menor eu ainda não cultivava esse ódio todo que eu... Sentia... – eu não consegui dizer sinto, agora vendo por esse lado.
- Ele anda gostava de mim quando você era menor e não vinha para cá por que ele não queria me ver... – Ela disse com uma voz triste.
- Mas sinto que isso não é tudo que você quer me falar mãe – eu disse, sabia, estava sentido que ela estava lutando pra me falar algo, mas estava com medo.
- O que eu tenho pra te falar é algo que eu não esperava, mas mesmo assim é uma benção... Porém sei que você vai ficar uma fera comigo... – Minha mãe estava com o semblante preocupado.
- Estou com medo – eu disse indo para a geladeira pegar uma água pra mim agora.
Ficou um silêncio incomodo de novo no cômodo.
- Eu estou grávida! – minha mãe disse interrompendo o silencio de supetão de novo e a jarra de água que eu segurava caiu no chão junto com o copo que estava na outra mão.
Não consegui falar nada, estava em choque, como assim minha mãe grávida de novo? Ela tinha 32 anos!
Eu estava parada no meio da cozinha de boca aberta.
- Olha filha, foi por isso que seu pai veio... – Minha cara de espanto se tornou de dúvida com as palavras dela – Ele ligou para mim para saber sobre você e eu tive que falar para ele, mas eu não sabia que ele viria para cá... – Ela disse e eu fui me sentar porque minhas pernas estavam tremendo e eu poderia cair ali a qualquer momento.
Eu ainda estava muda, sentada olhando os olhos da minha mãe sentada na minha frente, mas ela estava meio embaçada porque meus olhos já estavam marejando
- E ontem, quando você chegou, eu estava te esperando para dar a noticia, Marcelo quis estar aqui mesmo você nunca tendo aceitado ele direito, mas acabamos dormindo, aí você chegou e fez o escambal aqui dentro de casa e sumiu lá para dentro.
Senti uma pontada no peito quando eu lembrei da noite anterior.
- Mãe... – Foi a única coisa que consegui falar, parecia que tinha um nó na minha garganta que me empediu de falar.
Queria dizer que eu estava feliz por ela estar grávida, sempre quis ter um irmão, mas que não aceitaria morar com o Marcelo, não gostava dele, nunca gostei e nunca vou gostar, mas isso era algo inevitável...
- Suh, eu acho que sei o que você está pensando... – Ela disse receosa.
- E você vai se casar com o... – Eu não consegui falar mais, porque as lágrimas que estavam se formando em meus olhos desabaram.
Mesmo eu não terminando a frase minha mãe soube o que eu ia perguntar e acenou que sim com a cabeça e veio até mim e eu comecei a chorar no seu ombro.
Não, ela não podia casar com o Marcelo, eu não ia aceitar ter que dividir ela com ele, não ELE. Eu não sabia porque chorava, talvez chorava de choque, talvez de medo do desconhecido, ou pelo fato de John ter aparecido assim de repente, ou tudo junto.

- Meus... Meus parabéns mãe – eu disse dando o melhor sorriso que pude depois de alguns minutos chorando no ombro dela enquanto ela me confortava com palavras sobre o nosso futuro.
- Pelo quê? – Ela me perguntou confusa.
- Pelo meu irmãozinho – Eu disse a palavra agora rindo da cara dela.
Nunca entendi essa minha bipolaridade, eu já estava rindo?
- Sabe mãe, não entendo como você me agüenta – Eu disse e ela deu uma risada alta que me contagiou.
- Acho que porque sou sua mãe – ela disse passando o dedo indicador dela no meu nariz me fazendo eu me sentir uma criança de dois anos.
- E porque você me ama – eu disse fingindo egocentrismo e ela riu.
- É, e porque eu te amo também!
Ficamos rindo por algum tempo e fazendo planos para o meu futuro irmão ou irmã até o assunto acabar, o silêncio pairou pelo ar por algum tempo, comigo sempre acaba o assunto e surgem esses silêncios insuportáveis. Sempre!
- Impressionante! – Minha mãe falou do nada e eu pulei na cadeira de susto.
- O que é impressionante? – Questionei confusa.
-Você! – Eu arregalei os olhos, espantada.
- Eu? O que tem eu? – Minha cabeça fez um nó.
- É impressionante como num minuto você está chorando, no outro já está fazendo piadas – ela disse refletindo.
- Eu gosto disso – disse dando de ombros.
- Essa é uma das características que eu mais admiro em você, sabe, você supera as coisas tão rápido, as vezes gostaria de ser assim – ela me disse se levantando.
- Achei que havia herdado isso de alguém – disse levantando uma sobrancelha, jurava que isso era de família.
- E herdou. – olhei confusa para ela - Do John – ela olhou bem na minha cara para ver a minha reação ao dizer o nome John e sua expressão foi surpresa ao ver que nada havia mudado nas minhas feições.
Acho que depois de descobrir que ele nunca me abandonou meu coração amoleceu, assim, de repente.
- Tem uma coisa que eu não falei também – eu olhei depressa para minha mãe quando ela disse isso.
- Ai santo Cristo, o que mais falta para ser revelado? – Perguntei com o coração a mil dentro do meu peito.
- Olha, eu lembra que quando o John estava aqui e você me perguntou se eu queria que você fosse morar com ele e eu disse que não? – Eu relembrei o que tinha falado a menos de duas horas atrás e me pareceu que fazia meses.
- Lembro sim – disse confusa.
- Então, eu não quero mesmo que você vá, mas eu fiquei com medo da sua reação e querer ir morar em outra cidade, a cidade do teu pai quando soubesse que eu estou grávida e que vou me casar com o Marcelo, então eu também falei isso para o John – analisando aquela situação agora, lúcida, eu percebi que estava entre a cruz e a espada, ou eu morava com minha mãe casada com um idiota, ou eu morava com um homem que eu nem conhecia direito e que antes eu odiava...
- Você me colocou em fogo cruzado sem eu ao menos saber – disse com uma pontada no peito.
- Não foi porque eu quis Suh, e não foi eu quem pedi para o John voltar, eu apenas desabafei com ele...
- Tudo bem, eu entendo – eu disse sinceramente.
- Jura que está tudo bem e que você não está mais zangada? – Ela disse abrindo um sorriso.
- Juro! – disse fazendo um X com e beijando-os. – E quer saber de mais uma coisa, depois do que você me falou, toda a raiva que eu sentia do John... Sumiu – disse a ultima palavra como se fosse algo incrível, e era mesmo!
- Que bom filha, você não sabe como é bom saber que você agora vai começar a aceitar o John na sua vida.. – O olhar dela ficou um pouco triste.
- O que foi? – Perguntei preocupada, vai que ela estivesse passando mal.
- Em pensar que a culpada por você tê-lo excluído da sua vida foi eu... Eu me sinto tão mal por isso – eu olhei para ela com um olhar de repreensão.
- Não diga isso, foi apenas um mal entendido dona Cintia, agora se anima que depois do que eu descobri quero que essa tarde seja animada e que recompense os chororôs de agora – eu disse fazendo cócegas nela que começou a rir, parei de fazer cócegas nela e me dirigi para a dispensa. – Vamos começar comendo brigadeiro – falei pegando uma lata de leite condensado.
- Está parecendo que você é a mãe aqui e eu sou a adolescente – minha mãe disse e nós rimos juntas.

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